quinta-feira, 28 de junho de 2012

Participação das Tambores de Safo na Cúpula dos Povos

A participação das Tambores de Safo na preparação para a viagem a Cúpula dos Povos, em parceria com o Fórum Cearense de Mulheres, a Articulação de Mulheres Brasileiras e diversas outras organizações de mulheres se deu através da participação na formação política de construção da caravana cearense e paraibana, realizada no dia 27 de maio e da arrecadação de verba para que todas as mulheres da caravana recebessem ajuda na alimentação durante o percurso na ida e na volta, já que a AMB garantiu a alimentação durante a Cúpula, transporte até o ônibus cedido pela AMB para as mulheres do interior do Ceará, transporte dos instrumentos e passagens de volta de avião para que 8 integrantes das Tambores de Safo pudessem estar em Fortaleza a tempo de cumprir a agenda de shows. A verba foi arrecadada através de uma festa realizada na Casa Feminista com feijoada e bingo e a elaboração e aprovação de um projeto enviado para a CESE.

                                               Formação para a Cúpula na Casa Feminista

                                                Dinâmica facilitada pela Fátima na formação

Durante o trajeto de ida até o Rio de Janeiro, iniciado no dia 14 de junho da Praça da Gentilandia,  houveram momentos de muita descontração com músicas tocadas pelas Tambores, Comadres do Rap e outras mulheres, momentos em que compartilhamos experiencias, conhecimentos e opiniões sobre os assuntos a serem pautados na Cúpula através de depoimentos, como o da Laura, que emocionou a todas, e um debate que culminou na construção de uma intervenção musical a ser realizada na Cúpula com a participação de todas as mulheres da AMB, momentos em que participamos de dinâmicas facilitadas pela Fátima, em que assistimos a filmes como "A Fonte das Mulheres", que por ser próximo a temática feminista, originou novos debates  e a realização de pedágios nas estradas para complementar a renda e garantir que houvesse água e gelo durante todo o percurso.
Um acidente com uma carreta nos deixou horas paradas na estrada, no estado do Espírito Santo. Aproveitamos o tempo na estrada para uma rodada de apresentação e muita diversão numa roda com músicas e danças que prosseguiram mesmo em baixo de chuva, até a liberação da pista, atraindo a atenção de outras pessoas que também esperavam, como uma outra caravana da Bahia que como nós, seguia para a Cúpula e  um radialista local que tirou diversas fotos do nosso grupo. Chegamos  na madrugada do dia 17 de junho ao Rio de Janeiro e infelizmente, devido ao atraso, não participamos da cerimonia de abertura da Casa Feminista que abrigou as mulheres da AMB e pessoas de diversas nacionalidades, como Africa do Sul e Paraguai.

                                                    Algumas mulheres da nossa caravana

Muita diversão no ônibus, a caminho da Cúpula

Preparação para realização de um pedágio em uma das paradas 

Roda de apresentações das integrantes da caravana na estrada      

Parte da música-poesia construída na viagem

“Chora a floresta, a floresta chora
Chora a floresta mas o governo não olha!

Quantos indios morreram para o Brasil caminhar…
A história se repetindo para um belo monstro criar

Chora a floresta, a floresta chora
Chora a floresta mas o governo não olha!

o lugar em que eu nasci luto para preservar
A natureza está em mim e isso ninguém vai mudar

Identidade eu sustento
O mangue é meu alento
Índio é conhecimento
Você não pode comprar

Chora a floresta, a floresta chora
Chora a floresta mas o governo não olha!”                                   

Nossa instalação ocorreu tranquilamente. Nos dividimos entre duas salas de aula e o pátio da escola que transformamos por alguns dias em uma Casa Feminista. No dia 17 de junho começamos o dia com uma reunião e como encerramento da mesma,  formamos uma grande Ciranda Feminista puxada por nós, Tambores de Safo.
Ao chegarmos a Cúpula, além de atuarmos através de cortejo percussivo em diversos momentos, nos dividimos entre as plenárias de convergência que abordavam os seguintes temas:
- Plenária 1 - Direitos, Justiça Social e Ambiental
- Plenária 2 - Defesa dos Bens Comuns, Contra a Mercantilização
- Plenária 3 - Soberania Alimentar
- Plenária 4 - Energia e Indústrias Extrativas
- Plenária 5 - Trabalho: Por uma Outra Economia e Novos Paradigmas de Sociedade
A noite foi realizada uma reunião de avaliação das atividades do dia, preparação de cartazes e o ensaio com todas as mulheres da intervenção criada pela nossa caravana e de palavras de ordem a serem utilizadas no Ato das Mulheres.

                        Reunião de início da nossa atuação na Cúpula juntamente com as mulheres da AMB

                                    Ciranda Feminista, criada anteriormente pelas Tambores de Safo

                           Algumas Tambores se preparando para o primeiro dia de atuação na Cúpula

                                          Uma das plenárias de convergência que participamos

                                             Algumas das Tambores participando da plenária

Reunião de avaliação da participação das mulheres da AMB no 1° dia de Cúpula e confecção de cartazes

                                            Nova Ciranda Feminista após o ensaio para o ato
                                 
Nosso 2° dia na Cúpula começou com a inauguração do Território Global das Mulheres, onde aconteceram atividades específicas para mulheres e reuniu mulheres de todo o mundo. Lá ouvimos diversas falas de pessoas denunciando a situação ambiental e desigualdades sociais de suas localidades de origem, como as mulheres paraenses diretamente afetadas pela construção de Belo Monstro, uma chinesa retratando a atual situação ambiental no seu país e mostrando muita indignação pelo descaso dos governantes chineses com a preservação do meio ambiente e com parte da sociedade que dele tira responsavelmente seu sustento. Na inauguração, nós Tambores fizemos uma apresentação musical da música A Carne e puxamos o coro que entoava a música de nossa criação, Chora a Floresta.

                                                         Território Global de Mulheres
                         
Após a inauguração, seguimos em cortejo para o Ato que iniciaria no MAM. O cortejo foi seguido por todas as mulheres da AMB, que entoavam palavras de "desordem", cortando quase toda a área destinada a Cúpula dos Povos e algumas ruas da cidade.

                   Cortejo que antecedeu ao Ato das Mulheres - Do Território Global de Mulheres ao MAM

O Ato de Mulheres reuniu mais de 5000 participantes que levavam faixas, cartazes, bandeiras e entoavam palavras de desordem. Nós, Tambores de Safo, conjuntamente com as mulheres da AMB, participamos do Ato através de cortejo realizado por nós, Tambores e puxávamos diversas palavras de desordem e trechos de músicas de nossa autoria, como o Funk da Solução, Lésbica e Negra, Bicicletinha, entre outras.

As palavras de desordem e trechos de músicas que tiveram destaque:

1° lugar

Chora a floresta, a floresta chora,
Chora a floresta mas o governo não olha.

Refrão da música-poesia criadopor Brigida Souza, integrante das Tambores de Safo

2° lugar
Se o corpo, se o corpo, se o corpo é da mulher,
ela dá pra quem quiser, ela dá pra quem quiser,
ela dá pra quem quiser, inclusive pra outra mulher.

Trecho do Funk da Soluçao, Música de autoria de Lila M. e Lídia Rodrigues, integrantes das Tambores de Safo.    

A nossa luta é todo dia, 
somos mulheres e não mercadorias
A nossa luta é por respeito
Mulher não é só bunda e peito

    Nós, Tambores, durante o Ato, tiramos nossas blusas como forma de protesto, como sempre fazemos em cortejos e no nosso espetáculo, na apresentação da música A Carne, que é de autoria do Marcelo Yuka, Ulisses Cappelletti e Seu Jorge e que tem como interprete principal a cantora Elza Soares. O fato de protestarmos de "peito aberto" causou um grande interesse da mídia, que deu grande destaque a participação das Tambores de Safo no Ato das Mulheres. No momento em que tiramos a blusa, fomos cercadas por diversos fotógrafos e repórteres pedindo entrevistas, mas não nos intimidamos e seguimos assim até o final do Ato. Aparecemos no mesmo dia em telejornais de diversas emissoras de televisão, fomos capa de alguns jornais no dia seguinte e em muitos outros haviam reportagens sobre nós. A notícia se espalhou pela Casa Feminista e arredores, fazendo com que os jornais se esgotassem nas bancas mais próximas. Fomos procuradas pela imprensa de diversos meios de comunicação após a Cúpula, tendo aspectos positivos, como a oportunidade de visibilizar os ideais feministas em rede nacional, e negativos, como a tentativa machista e capitalista de transformar o nosso ato em mais uma forma de mercantilização do corpo da mulher, lidando conosco como se fossemos mercadorias. Devido a isso, fomos bastante seletivas nas entrevistas dadas, aceitando as que queriam abordar o assunto com enfoque político e recusando inúmeras propostas de meios de comunicação renomados.  
    Devido a manipulação de entrevistas dadas por nós a alguns meios de comunicação, chegando a  deturpar seu conteúdo, a AMB em parceria com as Tambores de Safo, criaram uma nota para a imprensa como forma de repúdio a tentativa de transformar um Ato político anti-machista, anti-capitalista, anti-patriarcal no seu oposto.

O link abaixo é a carta a imprensa postada nesse mesmo blog:

Algumas reportagens com referencia a participação das Tambores de Safo estão nos links abaixo:





                                                    Eu já falei, vou repetir, AMB está aqui...

                                      Participação das Tambores de Safo no Ato das Mulheres

                                             Tambores descansando após o Ato das mulheres 

Na noite após o ato fizemos outra reunião de avaliação com as mulheres da AMB e das atividades do dia nas plenárias de convergência.

No dia 19, último dia de participação das Tambores na Cúpula dos Povos, participamos das atividades do Território Global de Mulheres e realizamos uma pequena apresentação musical no interior da tenda

.                               Apresentação das Tambores na tenda Território Global das Mulheres

Na noite do dia 17 encerramos nossa participação na Cúpula dos Povos, mas a caravana cearense e as mulheres da AMB continuaram por lá, participando ativamente da Cúpula dos Povos.   

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Imperdível! Tambores de Safo na praça do Ferreira




Você já assistiu o nosso espetáculo "Tambores que ecoam contra as opressões"?
Não percam essa oportunidade!
De Sexta pra sábado (22 pra 23/6) vai rolar na Praça do Ferreira, a Virada Cultural LGBT.
Nosso espetáculo será logo depois da 00:00

Vamos todas juntas emanar energias para um mundo melhor!

Mulherada organizada ocupa a Avenida Beira Mar!

Bora???
Não esqueçam suas faixas, cartazes, bandeiras, malabaris e instrumentos.
Vamos parar Fortaleza para denunciar a lesbofobia e o Machismo e o racismo!


"Liberdade é pouco, o que quero ainda não tem nome"
Clarice Lispector

Nota à Imprensa


Comunicado à Imprensa
Articulação de Mulheres Brasileiras e Tambores de Safo

No último dia 18, durante a manifestação pública das redes articuladas no Território Global das Mulheres da Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro, nós feministas das Tambores de Safo nos expressamos,  mais uma vez, com nossa arte e nossa música, em defesa da justiça socioambiental e repudiando o desenvolvimento do capitalismo verde que ameaça direitos das populações e a natureza, agravando as múltiplas crises que vivemos – social, ambiental, climática, financeira, alimentar.
Na passeata, tocamos nossas alfaias e desnudamos nossos corpos para expressar politicamente nossa indignação e protesto, somando-nos ao alerta feminista manifesto nesta Cúpula dos Povos, diante dos resultados das negociações da Rio+20.
Frente à repercussão de nosso ato queremos comunicar, juntamente com nossas companheiras integrantes da Articulação de Mulheres Brasileiras, os sentidos de nossa ação feminista.
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Nosso corpo, nosso primeiro território. Com este pensamento, nós mulheres do movimento feminista fomos às ruas. A passeata foi um grito contra o capitalismo que tenta se disfarçar de verde, mas se mantém com sua voracidade de lucro que tudo transforma em mercadoria: o ar que respiramos, os conhecimentos dos povos, a água, as florestas, as sementes, a vida... Nossos corpos livres e nus falaram ao mundo que não aceitamos que os governos tratem nossos direitos como moeda de troca para patrocinar um dito desenvolvimento que não considera os direitos humanos.

Queremos viver bem, viver em condições de igualdade, viver com liberdade. Mostramos nossos peitos nus como expressão política da nossa luta. Tocamos tambores e gritamos nossas palavras de desordem. Queremos por fim à ordem patriarcal, capitalista e racista. Nossos peitos indignados exigem ar puro para viver.

Nosso corpo nos pertence. Este foi o nosso grito feminista nos anos 1970. Com ele denunciamos a exploração e dominação. Hoje, renovamos este clamor. Queremos ser donas de nossa própria vida, livres do racismo e da lesbofobia. Livres da violência machista na família, nas ruas e na mídia. Livres da discriminação na política e da dupla jornada de trabalho.

Queremos decidir o que vestir, o que comer e como viver. Não aceitamos as imposições do modo de produção e de consumo com o qual o capitalismo tenta submeter os povos do mundo. Nossa mesa é um ponto de encontro com quem convivemos e amamos, e nela queremos compartilhar alimentos saudáveis. Por isso gritamos não aos agrotóxicos, aos transgênicos, à monocultura. Do alimento depende a saúde do nosso corpo. Temos direitos de exigir alimentos saudáveis.

Denunciamos a violação de nossos corpos pelos homens, pela mídia, pela sociedade e pelas instituições que lhe dão sustentação. Denunciamos a heterossexualidade como obrigação que nos impõe uma forma de viver nosso afeto e prazer, marginalizando ou transformando em fetiche a lesbianidade e a bissexualidade. Denunciamos os abusos da medicina estética e da indústria cosmética que manipula, explora e controla nosso corpo e impõe sofrimento e risco de morte a muitas mulheres pressionadas pelos padrões de beleza ditados pela indústria e pela mídia, empresas que estão nas mãos de homens brancos e burgueses que ganham enormes lucros com as nossas dores e com a venda de ilusões.

Condenamos a exploração das mulheres pela indústria farmacêutica. Em todo o mundo, as mulheres formam a maioria das pessoas que consome tranquilizantes, remédios que anestesiam nossos corpo e nossa mente, para que suportemos a opressão e violência que nos causam tanto mal. Lutamos para escolher tratamentos e modos de vida e para impedir que os grandes laboratórios ganhem com nosso adoecimento.

Exigimos o fim da exploração das mulheres negras pela cultura patriarcal e racista, que nos trata como produto de exportação. Nosso corpo não está à venda. Nossa imagem não é mercadoria. Queremos o fim da exploração do corpo e da sexualidade das mulheres.
 
É preciso superar a hegemonia capitalista e reconhecer legítimas outras formas de economia e de produção do viver, em bases colaborativas e solidárias. É preciso por fim a relações de produção e trabalho baseadas na exploração sem fim das pessoas e da natureza, na divisão sexual do trabalho e na superexploração das mulheres dela decorrente.

Defendemos a efetivação dos direitos de todos os povos do mundo e seus territórios e seus modos de vida. E defendemos os direitos de nós, mulheres, à igualdade, à autonomia e à liberdade em todos os territórios onde vivemos e naqueles onde existimos. Nossos corpos são nosso primeiro território.

Afirmamos que nosso projeto de felicidade inclui inúmeras possibilidades­­­­ ­de realização: pelo estudo, trabalho, na luta política, nas artes, no lazer e não só pela maternidade, mas também por ela, desde que seja desejada.

Os nossos corpos nus nas ruas expressam os nossos sonhos de autonomia e liberdade. Queremos ser livres para o amor e o prazer. Livres para sermos mais felizes.
Rio de Janeiro e Fortaleza,  21 de junho de 2012.
Tambores de Safo e integrantes da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB)
presentes no Território Global das Mulheres da Cúpula dos Povos

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Contatos:
Pela organização Tambores de Safo:  Alessandra Guerra (85) 8508.1618 ou (85) 9781.1718
Pela coordenação executiva da AMB e coordenação do Território Global das Mulheres na Cúpula dos Povos: Schuma Schumaher (21) 9999.9122